Nunca te esqueças de quem és!
Olha-te ao espelho todos os dias e reconhece na tua cara a justiça, a serenidade e a coragem. Na rua, levanta a cabeça com orgulho. Ainda que mais ninguém saiba, estarás lá para nos proteger a todos e, quando necessário, agirás, sem hesitação.
Nunca te esqueças de quem és porque, no dia seguinte, terás de olhar novamente o espelho e continuar a reconhecer na tua própria cara, a justiça, a serenidade e a coragem.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Manuel Catarino ou o princípio de Peter

Não fosse a dilação de tempo entre a existência de Laurence Johnston Peter e a de Manuel Catarino no Correio da Manhã diria, com a maior das certezas, que o Princípio de Peter havia sido criado observando o atual “redator principal” daquele folhetim diário.

O Princípio de Peter advoga que numa dada estrutura hierárquica, cada funcionário tenderá a ascender pela mesma até atingir o seu nível de incompetência.

A partir do princípio de Peter, é comum ouvir o acrescento de que a velocidade de ascensão tem muitas vezes uma relação direta com a incapacidade do funcionário que, sendo despachado de um lado para o outro, tende a reunir experiência e currículo, mas não necessariamente competência. Assim, a velocidade de ascensão numa dada estrutura pode ser proporcional à incompetência.

Outra verdade insofismável é a de que um incompetente tenderá sempre a causar danos à organização, independentemente do lugar onde esteja. Trata-se apenas de uma questão de tempo.
Não menos importante é o fenómeno, também avançado por Peter de que, muitas vezes, a competência é penalizada e a incompetência premiada.

Pois bem, em que medida entra aqui Manuel Catarino?

Manuel Catarino tem um lugar de destaque num dos órgãos de comunicação social mais populares do país, o Correio da Manhã.

Estes dois factos (o do lugar de destaque do senhor no jornal e o do ranking do Correio da Manhã), para além de darem bem nota do estado de desenvolvimento civilizacional de Portugal, também significam que o senhor Catarino tem a capacidade de veicular as suas ideias a muitos milhares de leitores.

Isso, em si mesmo, poderia não ser um problema.

O problema é que Manuel Catarino, para além de escrever mal, escreve demasiadas asneiras, tem opiniões sem fundamento (coisas daquelas que se acha que é assim, porque sim), é claramente mal-intencionado em relação à Polícia, sofre de uma profunda ignorância em relação às matérias da segurança interna, de justiça e de polícia, é parcial, irresponsável e desprovido de ética e de isenção, para além de revelar raciocínios tão estranhos que só podem ser fruto, ou da distração, ou de uma mente mal-intencionada e manipuladora, ou ainda de uma estupidez mórbida. Enfim, é mentecapto!

Há quem possa dizer em resposta: “tem todas as qualidades de um bom jornalista!”

Não tenho dúvidas que a noção de “bom jornalista” no Correio da Manhã possa passar por deter em grandes quantidades, aquilo que considero defeitos graves, os quais até deveriam ser incapacitantes do exercício da tarefa.
Mas Manuel Catarino dava um caso de estudo no campo da psiquiatria.

Não estou a armar-me em Manuel Catarino, vejam:

Exemplo n.º 1 - Coluna de 18 de julho de 2013 com o título “Números errados”

A propósito do anúncio de descida da criminalidade em 12% no primeiro trimestre de 2013 em comparação com o período homólogo de 2012, Manuel Catarino invoca informações dos serviços prisionais dizendo literalmente o seguinte: “A simples lógica das coisas leva a admitir que a lotação das cadeias corre a par com a taxa de criminalidade: menos crimes, menos presos. É ao contrário. A criminalidade desce – mas as cadeias, há menos de um mês, registavam a mais alta ocupação de sempre: 12 653 reclusos, dos quais 2840 são preventivos.” e acrescenta: “A justiça penal portuguesa caiu num paradoxo. Se a tendência é para a queda generalizada da criminalidade, até dos crimes violentos e graves, como se explica o acentuado crescimento da população prisional?”

Assim de repente apetece-me dizer que, se se despacha mais gente para dentro da cadeia por serem autores de crimes graves, talvez haja menos gente do lado de fora a cometer crimes graves.

Não sei onde Manuel Catarino desencanta esta sua “lógica”, mas parece saída do fundo de uma garrafa de Passport Scotch e para a perceber é preciso alinhar na borrasqueira!

Onde vai ele buscar que, se o crime desce, a população prisional também tem de descer?

Não lhe passará pela cabeça que até possa ser um pouco… ao contrário!

Não se trata de “simples lógica”, trata-se antes de uma mente simples a querer compreender o sentido da lógica… e a falhar.

Os tempos utilizados no trabalho das polícias, dos tribunais e das entidades responsáveis pela aplicação das penas são distintos e rara ou nunca, coincidentes. Como é que a existência de mais reclusos pode ser sinónimo de um aumento da criminalidade? Na verdade apenas reflete o aumento das medidas de coação e das penas privativas da liberdade aplicadas pelos tribunais!

Já me dói a cabeça e não ando no Passport Scotch!

Exemplo n.º 2 - Coluna de 6 de junho de 2013 com o título “Crime no subsolo”

A propósito da detenção, pela PSP, de 3 homens que se dedicavam ao furto de cobre com um engenhoso método (uma carrinha com fundo removível que ocultava a sua descida a condutas das quais retiravam cabos), Manuel Catarino vai buscar o Centro de Inativação de Engenhos Explosivos e Segurança em Subsolo (CIEXSS) da Unidade Especial da PSP.

Refere o redator principal do Correio da Manhã o seguinte: “É singular como a intensa atividade do gang passou despercebida, durante tanto tempo, a quem deve vigiar os subterrâneos de Lisboa – o grupo especial da PSP criado por altura da Expo98 com a missão de manter o subsolo de Lisboa sob vigilância. O caso do roubo do cobre demonstra que a PSP não está a fazer o que a segurança de Lisboa exige.”

Esta afirmação extraordinária indica que Manuel Catarino não sabe o que é e o que faz o CIEXSS e pensa que se patrulha o subsolo como quem patrulha a Avenida da Liberdade para cima e para baixo. Ser ignorante não o inibe de opinar de forma imparável.

Esperaria Manuel Catarino que se pusesse um agente do CIEXSS debaixo de cada bueiro a que aguardando oculto que a dita carrinha porventura parasse por cima e depois surpreendesse os malandros com um grande “Aha! Apanhei-te!”

É o mais certo.

Não lhe chegou que o tal “Gang” tivesse sido detido e relacionado com um conjunto de outros crimes, queria que isso tivesse acontecido mais cedo e de preferência em sentido vertical de baixo para cima!

Exemplo n.º 3 - Coluna de 20 de dezembro de 2012 com o título “Polícias no papel”

Escrito ainda como Subdiretor, Manuel Catarino comenta o Conceito Estratégico de Segurança e Defesa Nacional, afirmando: “Nasceu do elevado contributo de generais, almirantes, historiadores, cientistas políticos, juristas, empresários – irrepreensível naipe de especialistas onde escasseiam polícias, e outros práticos destas coisas da segurança interna. Talvez essa ausência explique, por exemplo, a ideia absurda de combater o terrorismo e a criminalidade violenta e transfronteiriça sem a participação da Polícia Judiciária, do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras e da articulação dos diversos serviços de informações. Mas nem tudo é mau. É proposto ao Governo uma nova organização policial: concentrar na GNR o combate à criminalidade grave e reduzir a PSP a meras funções municipais – na prática, uma única força de segurança. É um caminho avisado. Desde que a PJ fique de fora da fusão e da mesma tutela.”

Nesta coluna, néscio como só ele sabe ser, Manuel Catarino quase revela com o regozijo as suas fontes de inspiração (a GNR e a PJ) e define claramente o seu ódio de estimação (a PSP), mas justificação para o seu raciocínio tortuoso?

Como demonstra ele a qualidade da solução que defende e que aliás, nem reflete exatamente o que o dito Conceito Estratégico de Segurança e Defesa Nacional inscrevia?

Saberá Manuel Catarino que, não fosse o desempenho da PSP, os números apresentados ano após ano no Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) seriam uma vergonha nacional?

Saberá ele que se existem ainda resultados positivos, esses resultados dependem essencialmente da prestação da PSP?

Saberá ele que a PSP é a Polícia que mais e melhor faz, dispondo do mais baixo nível de recursos de entre todas as forças e serviços em Portugal?

Terá consciência de que se alguém tem enfrentado os efeitos da criminalidade violente e grave que com gáudio defende para a exclusividade da GNR, é a PSP e não a dita GNR?

Não lhe terá passado pela cabeça que o policiamento não é algo que se possa cortar às fatias e repartir por níveis de intervenção sem conexão doutrinária?

Conhecerá ele a doutrina da PSP em relação aos níveis de intervenção?

Saberá ele que essa doutrina está a ser analisada e adaptada por muitas Polícias na Europa?

Suspeito saber a resposta a cada uma destas questões.

Não o faz porque não precisa e não lhe interessa, é ele que escreve e escreve sem dar cavaco a ninguém, no fim do mês ganha o mesmo e, continuando assim, vai cultivando amizades em cima de um monte de aldrabices, frases-feitas e lugares-comuns.

Exemplo n.º 4 - Coluna de 2 de agosto de 2012 com o título “Unidades Especiais”

Este, nem vou comentar, vou remeter para textos já escritos aqui.
2.       Ao ataque, em frente, marche! (http://o-policia-sinaleiro.blogspot.pt/search/label/GOE )
3.       Factos & mitos: quem duplica o quê na segurança interna? (http://o-policia-sinaleiro.blogspot.pt/2011/07/factos-versus-mitos-urbanos.html )
4.       Troco a Guarda Nacional Republicana por uma Guarda Costeira (http://o-policia-sinaleiro.blogspot.pt/2013/03/troco-guarda-nacional-republicana-por.html )

Exemplo n.º 5 - Coluna de 24 de janeiro de 2013 com o título “Polícias Cowboys”

A propósito de punições disciplinares aplicadas a polícias e da ação da IGAI, escreveu: “O estilo ‘cowboy’ caiu em desuso. Mas ainda há nas forças policiais quem se ache com direito à estupidez – como os dois que resolveram acelerar pela estrada de Benfica, pirilampos ligados, apenas para entregar três ladrões na esquadra. Ora, os imbecis não podem ser polícias."

Nem deveriam poder ser jornalistas e menos ainda redatores principais!

Porém …

Horácio Clemente