A GNR com pompa e circunstância ocupou o Parque das
Nações em Lisboa para comemorar o dia mundial da criança no dia 1 de Junho de
2014. Como todos sabemos, a GNR não tem jurisdição territorial na cidade de
Lisboa, mas persiste em centrar as suas acções na capital.
Tiro-lhes o chapéu pela quantidade e qualidade dos
meios expostos: blindados, viaturas do GIPS, viatura de instrução de condução
em todo-o-terreno também do GIPS, a unidade especial de operações subaquáticas,
um bloco de catástrofes USAR com meios de rappel, viaturas de ordem pública da
unidade de Intervenção, motociclos a apitar e com grandes ratters, meios
cinotécnicos, cavalos, etc.
Pretendendo ser próximos das crianças Lisboetas, o
único meio que tinham directamente relacionado com o policiamento de
proximidade foi um singelo veículo Smart da ‘Escola Segura’. Como quem diz: “ah
isso, da proximidade é para as polícias menores como a PSP”! Tudo o resto eram
meios das inúmeras unidades especiais que se vão multiplicando na GNR, com
aquisição exponencial de meios, onerosa para todos os contribuintes e sem
aparente justificação ou necessidade de utilização, tanto que os meios
apresentavam na generalidade pouco ou nenhum desgaste devido a falta de
utilização.
Pode-se argumentar: foi uma excelente inciativa! A
GNR dá uma imagem moderna junto dos cidadãos e das crianças numa zona nobre da
cidade onde não têm responsabilidade territorial! Admitimos que a exposição em
si estava muito bem delineada. Mas perguntamo-nos nós: e as crianças de Freixo
de Espada a Cinta? De Penafiel? De Sines? De Paços de Ferreira? E de Vialonga,
onde existem pelo menos duas ZUS onde raramente se vêem meios da GNR??? E o dia
mundial da criança nas inúmeras vilas e aldeias que estão à responsabilidade da
GNR? Porque é que a GNR não comemorou o dia mundial da criança na sua área de
jurisdição?
Arriscamo-nos nos próximos anos a assistir à GNR
comemorar o dia mundial da criança a 20 milhas da costa portuguesa, em submarinos,
em helicópteros, numa fragata, num quartel do exército, numa instalação do SEF
ou no Largo da Penha de França.
É feio utilizar as crianças para operacionalizar desígnios
expansionistas e manobras de marketing numa guerra permanente que não interessa
a ninguém (apenas aqueles que pouco têm que fazer e que se podem dar ao luxo de
planearem estas estratégias com objectivos bem menos altruístas que os
anunciados)! É feio querer «provocar» a PSP com iniciativas supostamente de
força humana, virada para os mais jovens, quando efectivamente esta acção não
passou de mais um episódio de propaganda que traduz a sistemática violação de
regras éticas e deontológicas de relacionamento com as outras forças e serviços
de segurança, com as forças armadas, etc.
A GNR persiste em patrulhar as áreas que não são da
sua responsabilidade, em reforçar áreas sem que lhe peçam reforço, em realizar
operações na área da PSP sem se preocupar em coordenar com os responsáveis
territorialmente competentes.
Mais uma vez, são efectuados contactos com
entidades locais à revelia de qualquer coordenação com a PSP…isto só traduz
duas coisas: sobranceria e impunidade.
Ao mesmo tempo, a GNR com esta exposição demonstra
aquilo em que se está a transformar (ou aquilo que efectivamente os oficiais
mais fundamentalistas gostariam que fosse): um corpo elitista de tropas
especiais! Não uma força de segurança próxima dos cidadãos! Mas uma verdadeira
Guarda do território e não dos cidadãos!
Meios dispendiosos, pouco utilizados, utilizados
numa acção benemérita com as crianças, quando nas vilas e aldeias se encontra a
verdadeira Guarda com instalações deficitárias, com viaturas em condições
deploráveis, com Guardas que olham para estas Unidades Especiais como símbolo
de uma outra Guarda que não é a sua!
SC