Nunca te esqueças de quem és!
Olha-te ao espelho todos os dias e reconhece na tua cara a justiça, a serenidade e a coragem. Na rua, levanta a cabeça com orgulho. Ainda que mais ninguém saiba, estarás lá para nos proteger a todos e, quando necessário, agirás, sem hesitação.
Nunca te esqueças de quem és porque, no dia seguinte, terás de olhar novamente o espelho e continuar a reconhecer na tua própria cara, a justiça, a serenidade e a coragem.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Força, força camarada Vasco !!!


Vasco Lourenço, militar na Reserva que pertenceu à Comissão Política do Movimento das Forças Armadas durante o golpe de Estado de 25 de Abril de 1974 e consequente Revolução, terá hoje a bonita idade de 69 ou de 70 anos.
Após uma carreira militar que contou com uma comissão na Guiné de 1969 a 1971 (2 anos), passou à Reserva com o posto de tenente-coronel a 20 de Abril de 1988. Tinha 46 anos de idade.
Está assim, a receber como tenente-coronel há 23 ou 24 anos!
Ora Vasco Lourenço, o jovem revolucionário de 46 anos de idade, na reserva com um vencimento de oficial superior garantido pelo contribuinte português, livre para fazer o que quisesse com o seu tempo, tem-no usado para muita coisa, mas a sua paixão é mesmo a Associação 25 de Abril.
Nada contra. Aliás, sem pudor ou preconceito, julgamos que não pode haver dúvidas que a revolução foi necessária, mesmo imprescindível à liberdade e a garantir a melhoria das condições de vida dos portugueses.
Para além de falso, é obsceno dizer que estamos pior do que antes. É indecoroso ser saudosista da ditadura e do regime corporativista. É ser ignorante e tacanho olhar essa parte da nossa história recente com admiração reverencial.
Mas todas as revoluções se fazem de crentes e de oportunistas e, no final, o jogo não é dos crentes.
Por isso, silenciados os militares da revolução que, durante mais de 25 anos, ocuparam cargos por toda a administração pública e na política e se aposentaram cedo com boas reformas, desapareceram as contestações desses arautos da liberdade e ninguém mais se importou que o país fosse devolvido às feras.
Feras diferentes, é certo, feras que ocupam o lugar por via do nosso voto mas, ainda assim, feras.
Aqui residem as nossas dúvidas. Esses militares estavam do lado dos crentes ou do lado dos oportunistas?
A história do 25 de Abril de 1974, ainda está por fazer em toda a sua plenitude, com todo o seu detalhe.
Os portugueses devem saber que:
Antes do Estado Novo, houve uma Ditadura Nacional (1926-1933), que foi um regime antiparlamentar e antiliberal instaurado e dirigido violentamente por militares, que suspendeu as garantias consignadas na Constituição Portuguesa de 1911, precedeu a instauração formal do Estado Novo em 1933.
Juntos, a Ditadura Nacional e o Estado Novo existiram imperturbáveis durante 48 anos.
Foram os militares que lhe deram início, foram os militares que o sustentaram. As estruturas do Estado que poderiam não estar inteiramente sob controlo foram militarizadas, foi o caso da Polícia Civil que depois de desmembrada em vários corpos, recebeu o nome de Polícia de Segurança Pública e foi transformada num corpo comandado por militares.
Sendo assim tão ciosos da liberdade dos cidadãos, porque demoraram os militares 48 anos a libertar Portugal e os portugueses?
Porque só no final dos anos 60 (quase 10 anos após o início da Guerra Colonial) é que o peso económico da guerra que se fazia sentir em todos os portugueses, ameaçou fazer-se sentir no estatuto dos militares.
Por outro lado, a parte boa de se ser militar é viver num clima de paz e não ter de por em prática o sentido da sua existência: matar e destruir em nome do interesse político do Estado a que se pertence.
Em tempo de paz, os militares têm de ser bem tratados para que não façam a guerra dentro de casa. A parte extraordinária de ser militar, é a autosuficiência, o quartel, a messe, o serviço de saúde, hospital exclusivo, a companhia dos camaradas, etc... espírito que a GNR, sendo militar, também partilha.
Esta é a verdadeira condição militar que Eça de Queirós designou como a “ociosidade por conta do Estado” e que constitui o dilema político da força armada em tempo de paz: O que fazer com uma boa mão-cheia de homens armados e desocupados?
Ora no início dos anos 70 do século passado, tínhamos umas forças armadas que estavam cansadas de guerrear, que se arriscavam a perder direitos e regalias com as reformas Marcelistas e que vinham de um povo exaurido, deprimido e oprimido que precisava de ser rastilhado para explodir.
Estavam reunidas as condições para tomar o poder e foi isso que foi feito, praticamente sem resistência porque, enfim, estávamos todos cansados e ninguém queria mais guerra, “nem lá, nem cá”.
Quando se diz “tomar o poder” é mesmo “tomar o poder”, não houve órgão político ou lugar na administração que não continuasse ou não fosse cheio de militares. Em todo o lado havia, coronéis e generais, da Presidência à Junta Autónoma das Estradas.
Nos últimos anos, os militares voltaram a usar o dinheiro do Estado (aliás, do contribuinte) à tripa-forra, fintando a lei, adiantando-se aos demais nas vantagens e retraindo-se nas desvantagens da racionalização antes e depois do anúncio da “crise”, continuando a promover e a aumentar vencimentos sem controlo ou racionalidade, abrindo vagas em número indiscritível para as suas academias para formar oficiais que não terão subordinados.
Agora que militares como o tenente-coronel na reserva Vasco Lourenço sentem o peso da austeridade nos seus recibos de vencimento, sente-se o gérmen revolucionário a acordar e as afirmações, diria ameaças, que o dito faz, são graves.
É certo e sabido que as medidas de austeridade vão gerar revolta, protesto e talvez convulsão, mas Vasco Lourenço vai mais longe e envia uma mensagem às forças de segurança, avisando-as para nada fazerem sob pena de… sob pena de quê?
Ninguém percebeu tudo, porque ele não quis ser claro, mas percebe-se a ameaça às forças de segurança que apelida de repressivas: não façam nada senão os militares têm de ir contra vós!
Ou seja, as forças de segurança não poderão garantir a ordem pública com medo dos militares?
São os militares que vão garantir a ordem e a segurança pública?
Estará Vasco Lourenço a sugerir que as Polícias são menos democráticas que os militares?
A história comprova-o?
O exemplo do Egipto que utiliza já é comprovadamente uma libertação do povo?
Saberá o Vasco que a PSP tem por missão assegurar a legalidade democrática, garantir a segurança interna e os direitos dos cidadãos, nos termos da Constituição e da lei?
E os cidadãos portugueses…
Saberão os cidadãos portugueses que não há ditadura ou poder repressivo no mundo que não tenha sido instaurado, apoiado e mantido por militares?
Saberão os cidadãos portugueses que, em toda a história da humanidade, os militares têm demonstrado que se deitam com o poder até o dia em que o atiram fora e ficam com a cama toda?
Força, força camarada Vasco!
A verdade ainda virá ao de cima!